(Por Thalma Tavares)
Nós, homens e mulheres de todos os tempos, de todos os credos religiosos, de todos os rincões da Terra, que aprendemos a usar as palavras, vivemos ansiosamente buscando o verso perfeito, a expressão mais sublime para externar verbalmente a grandeza do amor materno. E ao cabo de muitas buscas concluímos contrafeitos que a expressão que encontramos, quando a encontramos, por mais extraordinária que nos pareça, não tem a força nem o brilho necessário para exprimir o que sentimos em relação a esse amor. No entanto, como o presidiário ante a estreita faixa de luz que lhe cabe na minúscula abertura de sua cela, mas que não reflete totalmente a grandiosidade do Sol, nós nos conformamos com o fruto dessa busca, desde que ele traduza fielmente a essência do nosso carinho, daquilo que há de melhor em nosso coração. E o melhor que há em nós, para nossa mãe, pode estar contido num simples gesto, no respeito que lhe devotamos, na palavra que silenciamos para não magoá-la, na aceitação de suas humanas imperfeições e no esforço que fazemos para que os nossos defeitos não lhe tirem o sono, vincando-lhe prematuramente o rosto amado com as indesejáveis rugas do desgosto. E nesse contexto insere-se muito bem a Trova de LUIZ OTÁVIO, quando suplica:
"Oh, mãe querida, perdoa!
O que sonhaste, não sou...
Tua semente era boa:
a terra é que não prestou."
Muitas vezes, no perfil de mãe que costumam traçar poetas e prosadores, identificamos traços e gestos daquela que nos deu o ser.
Minha mãe foi para a morada eterna quando eu contava apenas sete anos de idade. Guardo ainda em minha lembrança seu rosto suave, seus dulcíssimos olhos que nos fitavam com uma ternura e um sentimento de quem está sempre se despedindo. Ela se foi, é verdade, mas deixou na ternura de sua própria mãe a mãe que se desvelaria por mim e por minhas irmãs. E é desta outra mãe o traço humano e heroico que identifico nestas trovas do saudoso JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAUJO e de PEDRO ORNELLAS, respectivamente:
De JOSÉ MARIA:
"Na infância de minha vida,
fui pobre, mas não sabia
porque é que eu tinha comida
e a minha mãe não comia."
De PEDRO ORNELLAS:
"Ser mãe é zombar da fome,
nos olhos mantendo o brilho,
ao ver o pão que não come
matando a fome do filho."
Mas JOSÉ MARIA não parou por aí, traçou nesta bela trova um outro lado do amor de sua genitora, que fez das lágrimas o apelo maior para que o filho se tornasse um homem de bem:
“Minha mãe verteu mais pranto
que a Mãe de Nosso Senhor...
A Virgem chorou um Santo,
Minha mãe – um pecador.
Deus nos premiou generosamente ao colocar no coração de nossas mães e de nossas avós, toda essa inesgotável fonte de ternura que as vicissitudes da vida não nos deixa, às vezes, perceber em toda a sua plenitude, nem retribuir como se deve. Mas as mães não cobram atitudes, não exigem trocas ou recompensas porque não barganham com o amor. E quem nos garante isto é a trovadora MARILITA POZZOLI, quando nos diz:
"Coração de mãe, canteiro
em perene floração,
onde um Santo Jardineiro
planta as rosas do perdão"
É feliz quem pode ainda hoje olhar fundo nos olhos dessa extraordinária criatura, tomar-lhe carinhosamente as mãos, aconchegá-las ao peito e dizer-lhe enquanto bate mais forte o coração: - Escuta, mãe! Escuta como bate o meu coração! Ele está te dizendo o que as minhas palavras não conseguem...
E aquele a quem ela já não pode tocar fisicamente o peito, porque já não é deste mundo, tem-na constantemente no coração, como estrela inapagável no céu da alma. E essa certeza está comoventemente contida nos versos desta tocante Trova de SARA MARIANY KHANTER:
"Minha mãe partiu, tão linda!
Sorriu no último adeus...
E em minha tristeza infinda
eu tive inveja de Deus."
E são às mães de todos nós filhos presentes e ausentes, que nós dedicamos este trabalho em homenagem ao Dia das Mães, enriquecido pelas joias da genialidade de nossos irmãos TROVADORES.
Entre as amorosas mães do mundo inteiro uma existe que não pode ser esquecida; destaca-se por ser, brasileiramente, a mãe dos filhos alheios. Eis como Thalma Tavares, tem-na em sua lembrança:
Foi Mãe Preta alforriada
pelo afeto do Senhor...
De tanto afeto cercada
morreu escrava do amor.
É tocante o lirismo com que o trovador JOSÉ LUCAS DE BARROS evoca a ternura materna:
“Frases de eterna pureza
mamãe sempre me revela;
porém as de mais beleza
eu leio nos olhos dela.”
A.A. DE ASSIS exalta o amor materno nesta sua trova bastante criativa, numa comparação repleta de lirismo:
“Com que suave ternura
tece a canária o seu ninho!
- Mãe é assim, dengosa e pura;
a nossa e a do passarinho...
Mas quem se emociona com os versos que falam de Mãe, não pode esquecer esta joia da inspiração poética de MARTINS FONTES, engastada neste seu primoroso e delicado Soneto:
MINHA MÃE
Beijo-te a mão que sobre mim se espalma
Para me abençoar e proteger.
Teu puro amor o coração me acalma;
Provo a doçura do teu bem-querer.
Porque a mão te beijei, a minha palma
Olho, analiso, linha a linha, a ver
Se em mim descubro um traço de tua alma,
Se existe em mim a graça do teu ser.
E o M, gravado sobre a mão aberta,
Pela sua clareza me desperta
Um grato enlevo que jamais senti:
Quer dizer Mãe este M tão perfeito,
E, com certeza, em minha mão foi feito
Para, quando eu for bom, pensar em ti.
Ficaríamos aqui, com um prazer imenso reproduzindo incontável número de trovas e poemas que falam de mãe, se o tempo e o espaço não obstassem a nossa intenção. Mas vamos encerrar esta breve homenagem fazendo nosso o desejo de ARCHIMIMO LAPAGESSE, e nossa a gratidão de AGMAR MURGEL DUTRA, nestas duas trovas repletas de singeleza e ternura:
De ARCHIMIMO:
“Se Deus atendesse um dia
minha prece ingênua e doce,
quem fosse mãe não morria,
por mais velhinha que fosse.”
De AGMAR:
“Pelo bem que me fizeste
sem nunca exigires nada;
pela luz que tu me deste,
Minha mãe, muito obrigada.”
FELIZ DIA DAS MÃES
(Minipalestra proferida pelo autor na UBT- São Paulo, UBT-Amparo, Casa do Poeta e Escritor de Ribeirão Preto, SOS - Cultura de São Simão-SP e C.E. “A Caminho da Libertação”)
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