sábado, 6 de junho de 2009

Paulo Leminski (1944 - 1989† )

Paulo Leminski. Poeta, compositor, professor. Foi um estudioso da língua e cultura japonesas e inclusive publicou uma biografia de Bashô. Sua obra tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos. Seu livro "Metamorfose" foi o ganhador do Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995. Em 2001, um de seus poemas ("Sintonia para pressa e presságio") foi selecionado por Ítalo Moriconi e incluído no livro "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", Editora Objetiva — Rio de Janeiro.

Biografia:

* 1944 - Nasce em Curitiba, Paraná, a 24 de agosto, sob o signo de virgem, Paulo Leminski Filho, filho de Paulo Leminski e Áurea Pereira Mendes.
1958 - Foi para o mosteiro São Bento em São Paulo e ficou o ano inteiro.
1963 - Participa do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte -MG onde conhece Haroldo de Campos. Casou com Neiva Maria de Souza (da qual se separou em 1968).
1964 - Estréia com cinco poemas na revista Invenção, dirigida por Décio Pignatari, em São Paulo, porta-voz da poesia concreta paulista.
1965 - Professor de História e de Redação em cursos pré-vestibulares.
1966 - Classifica-se em primeiro lugar no II Concurso Popular de Poesia Moderna, promovido pelo jornal O Estado do Paraná.
1968- Casa-se com a poeta Alice Ruiz, com a qual teve três filhos (Miguel Ângelo, falecido aos 10 anos, Áurea Alice e Estrela).
1969/70 - Mora no Rio de Janeiro.
1970/80 - Diretor de criação e redator de publicidade.
1973 - Morte do pai.
1975 - Publicação do Catatau. (depois de 8 anos de elaboração).
1978 - Morte da mãe.
1979 - Publicação de 40 Clics, em parceria com o fotógrafo Jack Pires.
1980 - São Paulo - Colaboração no Folhetim e revista Veja.
1981 - Caetano Veloso grava Verdura, com letra de Leminski.
1983 - Publicação das biografias de Cruz e Souza e Bashô. Publicação de Caprichos e Relaxos, livro de poesias.
1984 - Tradução de Pergunte ao Pó, de John Fante. Publicação de Agora é que são elas, seu segundo romance. Publicação da biografia de Jesus Cristo.
1985 - Tradução de Um atrapalho no trabalho, de John Lenon, Sol e Aço, de Yukio Mishima, O Supermacho, de Alfred Jarry, e Satiricon, de Petrônio. Publicação de Haitropikais, em parceria com Alice Ruiz.
1986 - Publicação da biografia de Trotski. Tradução de Malone Morre, de Samuel Beckett. Publicação do livro infanto-juvenil Guerra dentro da gente.
1987 - Publicação de Distraídos venceremos. Tradução de Fogo e água na terra dos deuses (poesia egípcia antiga).
1988 - Escreve o Jornal de vanguarda na TV Bandeirantes, São Paulo.
1988 – Casa-se com a cineasta Berenice Mendes.
1989 - Falece em 7 de junho, em Curitiba, Paraná.
Fonte:http://www.elsonfroes.com.br/kamiquase/home.htm

A obra de Leminski segundo João Angelo Salvadori:

Precisamos situar e entender a importância da obra de Paulo Leminski a partir de dois eixos fundamentais, que marcam a sua formação literária: o concretismo e a contracultura dos anos 60/70. Na obra de Leminski estas duas informações estéticas se fundem e adquirem uma nova dimensão, que fazem com que ele seja fundador de um novo e único momento na poesia brasileira da segunda metade do século.

Do concretismo veio, entre outras coisas, a informação de origem acadêmica, a visão em perspectiva da história da literatura universal, o radicalismo na valorização da palavra enquanto signo e matéria-prima básica do poema (a informação concretista talvez valha mais pelo seu conteúdo teórico/ crítico do que por sua produção literária propriamente dita, penso eu). Da contracultura veio o resgate da comunicabilidade (que fez tanta falta -- e até hoje faz -- a uma legião de poetas posteriores à primeira geração modernista), o humor, a desmistificação da "estética do profundo", o espírito meio anarquista e a veia transgressora. Dos dois, a valorização da concisão e o combate ao derramamento. Por esses dois caminhos Paulo chega ao haicai. A visada, no entanto, será sempre a do criador. O haicai é matéria para criação, e Leminski realmente alarga as possibilidades do gênero, sem o menor compromisso em manter-se dentro dos limites estritos da estética clássica japonesa, apesar de reverenciá-la e a ela reportar-se.

A legião de seguidores não é culpa sua, e enquadra-se perfeitamente no esquema de Inventores/ Mestres/ Diluidores proposta por Pound. Não é fácil ser genial, apesar da genialidade freqüentemente vir em embalagem muito simples.

Assim, o haicai para Leminski é informação, ponto de partida e muitas vezes de chegada (roupas no varal/ deus seja louvado/ entre as roupas lavadas), tudo a serviço do impulso criativo do poeta. A transgressão que ele pratica não é nenhuma heresia, é alargamento das possibilidades estéticas. Um sólido punhado de regras não vale uma só iluminação que um leitor de Leminski teve com um dos seus haicais ou trans-haicais. Parece-me justo criar obedecendo regras, mas não muito justo opor regras à criação.

Paulo Leminski, penso eu, foi um dos maiores criadores e divulgadores do haicai em língua portuguesa, e não um desviador de rota do gênero. João Angelo Salvadori.
Fonte: http://www.kakinet.com/caqui/leminski.htm

A POESIA:

Um bom Poema
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Não Discuto

não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino


um homem com uma dor

um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante

carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra


I

Confira
tudo que
respira
conspira

II

Tudo é vago e muito vário
meu destino não tem siso,
o que eu quero não tem preço
ter um preço é necessário,
e nada disso é preciso

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