terça-feira, 22 de maio de 2012

O paranaense Dalton Trevisan vence o Prêmio Camões de literatura

A palavra do vampiro

Ele é avesso a entrevistas, fotografias, afagos e todo o tipo de alusão pública. Há várias décadas, percorre uma única e reduzida área na região central da Grande Curitiba, disfarçado com um boné que cobre parte de seu semblante. Por vezes considerado enigmático, misantropo ou solitário, Dalton Trevisan escapa ao mundo externo para melhor poder observá-lo, para então recontá-lo por meio de suas histórias, personagens e imaginações.

O universo ficcional desse escritor paranaense acaba de ser reconhecido com o Prêmio Camões, o maior prêmio literário de língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra. A honraria ajuda a consagrar o “Vampiro de Curitiba”, como ficou conhecido Dalton Trevisan, como um dos maiores escritores brasileiros. O júri justificou a escolha por considerar a Trevisan como sendo “o maior contista moderno do Brasil”.
Dalton Trevisan,
aos 20 anos,
segundo ilustração
de Poty Lazarotto

A trajetória de Dalton Trevisan no mundo das letras remonta aos primeiros anos da década de quarenta, quando publicava as suas críticas e materiais nas páginas da revista “Joaquim” (1946-1948), balançando as estruturas da canonizada literatura nacional ao questionar a obra de escritores do quilate de Monteiro Lobato, por exemplo. A revista abrigou a produção de escritores como Antonio Cândido, Mario de Andrade, Drummond, entre muitos outros. Neste período, Dalton Trevisan apresentava traduções de ícones da literatura, como Joyce, Proust e Kafka.

Antes de “Joaquim”, Trevisan havia esteado com dois livros, “Sonata ao Luar” e “Sete Anos de Pastor”, publicações até hoje ignoradas pelo próprio autor. Até hoje, o escritor publicou apena um romance, sob o título de “A polaquinha”.

Dalton Trevisan se lança para o grande público com livro “Novela nada exemplares”, de 1959. “Cemitério de elefantes”, “Noites de amor em Granada”, “Morte na praça”, “O vampiro de Curitiba” e “Guerra conjugal” são as obras de sua autoria que mais se destacam. Em 2011, venceu o Prêmio Jabuti com “Desgracida”, que concorreu na categoria contos e crônicas. Ao longo de sua vida, escreveu mais de 40 livros, que também ganharam edições internacionais, em vários idiomas.

O contista paranaense nasceu em 1925, em Curitiba. Formado em direito, já foi jornalista e crítico de cinema.

Desde as primeiras lavras, Curitiba é o cenário que empresta a sua geografia e fornece os tipos que formam as personagens dos textos de Dalton Trevisan. Em suas histórias, o autor mergulha fundo nas composições e improvisações com a língua, reposicionando a gramática para atender ao ambiente social e psicológico pelo qual irão transitar os protagonistas de seus contos e crônicas. As investidas de reinvenção do idioma propostas por Trevisan também servem para aproximar o leitor do texto lido, atualizando o falar das ruas e dos espaços não tão públicos assim, constantemente presentes em suas obras.

O anúncio do Prêmio Camões foi feito pelo Lisboa, pelo Secretário de Estado da Cultura de Portugal, Francisco Viegas. Com a honraria, concedida de forma unânime pela comissão julgadora, Dalton Trevisan irá receber 100 mil euros em premiação.

O Prêmio Camões foi instituído em 1989, sendo entregue, de forma alternada, a escritores do Brasil e de Portugal. O júri deste ano foi formado por Silviano Santiago, escritor brasileiro; Rosa Martelo, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Abel Barros Baptista, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; João Paulo Borges Coelho, historiador e escritor moçambicano; Alcir Pécora, professor da Universidade de Campinas; e, Ana Paula Tavares, poetisa angolana.
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(Guatá/Paulo Bogler)

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