terça-feira, 10 de abril de 2012

Nosso poeta maior: Crônica do Pe. Orivaldo Robles

De vez em quando me pego assobiando a melodia de um jingle que só os mais antigos de Maringá conheceram. É uma musiquinha que, há uns cinquenta anos, nossas emissoras de rádio tocavam. A letra dizia: “Motorista inteligente / De todo o Paraná /Confia o motor do seu carro /À Retificadora Maringá”. Levou tempo para eu descobrir que o autor é um amigo muito querido, a quem costumo chamar de poeta maior de Maringá. Muita gente se cansou de ler, sem saber, matérias suas. Usou vários pseudônimos em tempos passados. Hoje, tudo o que produz vem com a inconfundível assinatura de A. A. de Assis. Só os mais íntimos sabem que A. A. abreviam Antônio Augusto.

Trovador de nome repetido em qualquer canto do Brasil, viu cumprida a profecia que Luiz Otávio lhe fez, há mais de 50 anos: “Você pode escrever o tipo de poesia que bem entender, mas, para ficar conhecido no Brasil inteiro, precisa fazer trovas”. É dele a trova que todo maringaense minimamente letrado já ouviu ou leu alguma vez. Ela encanta pelo achado de lirismo e simplicidade: “Num tempo em que tanta guerra / enche o mundo de terror, / benditos os que, na Terra, / semeiam versos de amor!”. Foi vencedora dos I Jogos Florais de Corumbá (MS), um dos inúmeros concursos promovidos pela UBT – União Brasileira de Trovadores. Em qualquer desses certames, aliás, é difícil que uma trova sua não arrebate o primeiro prêmio ou não receba, pelo menos, menção honrosa. Para azar de sua conta bancária, não existe premiação em dinheiro. Os vencedores recebem troféus ou medalhas.

Como boa parte dos poetas, Assis é um homem simples. Num passado não tão longínquo, poeta era boêmio, contraía tuberculose e morria cedo. Nosso poeta maior é morigerado, tem uma saúde de ferro e, nestes dias, está completando 79 anos. Mas é poeta da cabeça aos pés. Melhor para nós. Sorte nossa ainda que tenha decidido trovar. Que tenha tomado gosto por essa refinada expressão artística que atinge, segundo penso, a quinta-essência da poesia. Em pouquíssimas palavras a trova despeja uma imensidão de sentimento e beleza. Como lindamente Assis revela: “Ouço ainda, ao longe, o canto / de um velho carro de boi… / Lembrança de um tempo e tanto / que há tanto tempo se foi! Ou esta: “Curvada ao peso da idade, / a vovó, serena e bela, / distrai o tempo e a saudade / entre o novelo e a novela…”.

O 2° Festival Brasileiro de Trovadores, realizado em Maringá, no ano de 1970, teve a sua missa em trovas: textos por ele trovados, desde o sinal da cruz até à bênção final, ainda hoje um sucesso Brasil afora. O prefeito de Paranacity, Antônio Tortato, era trovador. A caravana foi a Paranacity para um churrasco, ao lado da casa paroquial. Eu era o pároco, então com 29 anos. Alguns trovadores puseram-se a comentar o celibato dos padres e o divórcio das pessoas casadas. Aproveitando o mote, jocosamente, Assis criou ali, na hora: “Percebam que ‘troço’ chato: / Os padres, neste momento, / Lutam contra o celibato / E nós, contra o casamento”.

Casado há 54 anos com Lucilla, vejo-os aos domingos na Catedral, na missa das 18h. Se faltam, sei que estão em Balneário Camboriú, na casa de Maria Paula, uma das filhas. A outra, Maria Ângela, mora aqui. Filhas, genros e netos são a razão de ser do casal coruja, modelo de família construída sobre alicerces cristãos.
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Crônica publicada no “O Diário do Norte do Paraná” e reproduzida no blog do jornalista Ângelo Rigon 31-3-2012

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