
PESADELO
© PAULO ROBERTO KARAM
O frio das estepes me invade,
e minha alma se enregela,
e eu em busca da claridade
e do calor que me vem dela.
Ando pela estepe infinita – vagando
não sei por onde vou, talvez,
ao sabor do vento, cavalgando
como um fantasma chinês.
E como um cavaleiro quirquiz
ergo minha tenda no Altai
esperando quem já me quis.
A estepe é uma vida insane,
onde me acho a vagar. Infeliz,
em busca de uma sombra que me ame.

Italiana por ascendência.
Humana por herança.
Ecológica por natureza.
Sangue verde-amarelo.
Pensamento nas nuvens
e dificuldade de tirar os pés do chão.
Formada em Letras, Inglês - Português pela UFPR.
Professora.
Membro do Centro de Letras do Paraná.
Participante das Oficinas de Criação Literária.
Integrante do Grupo Pó&teias.
APESAR
© DEISI PERIN
Apesar de o sol
ser a estrela do centro do Sistema Solar,
na fraca faixa de luz
através do céu noturno, habitamos.
Entre estrelas e nebulosas
passeamos os dias na Via Láctea
e preferimos astros artificiais
e luzes frias e solitárias.
Giramos em meio à poeira cósmica
sem atingir o núcleo.
Apenas conhecimentos elípticos
à velocidade do som
nos aproximam das constelações.
E quase sentimos
os hemisférios juntarem-se.
Mas a composição atmosférica
não tem energia suficiente para interagir.
Então emitimos
fracos raios espectrais sem cor, nem calor.
E brilhamos pouco e sozinhos
em nossas próprias estrelas.

Para ele, o poeta é um sonhador, cuja alma perscruta a imensidão do Universo, pintando em ricos matizes, enternecedores poemas, esculpindo frases, burilando estrofes as mais sentidas e, sobretudo, dando aos versos, sublime encanto de comovente e excelsa ternura!
MÃE
© MAMED ASSIM ZAUITH
Quantas vezes, vossas foram nossas dores,
quantas vezes, de mãos postas rogastes,
em prece súplice orastes
ouvindo o silêncio da noite!
Vossa voz doce e meiga
é acalanto e berceuse,
vossa aura de pureza
é nossa inspiração!
Guardais a renúncia do mártir,
a coragem dos heróis,
a bravura do indômito,
a sabedoria dos filósofos,
a sensatez dos justos,
a resignação dos humildes,
a generosidade dos nobre!
Quantas vezes suportais as chagas
poupando nossas dores.
Carregais a cruz
para não galgarmos o calvário.
Ajoelhais
para andarmos de pé.
Tributais lágrimas
para que nos alegremos.
Chorais
para sorrirmos.
Sentis frio
para dar-nos calor.
Secais vossos lábios
saciando-nos a sede!
Perdoando...
sois clemente e generosa.
Protegendo...
austera e inflexível.
Abençoando...
angelical e santa.
Educando...
exemplo e doação.
Sois estóica na virtude,
inexorável na fé,
inabalável na esperança!
Vosso terno afago
tem o ciciar de brisa;
o farfalhar da ramagem,
o remansear do regato.
Sois a chama, sois a vida,
à vossa volta, tudo se altea,
se ilumina.
Sublima e alcandora.
Resplandece!
Que nossas lágrimas de gratidão
rolem a vossos pés
e subam aos céus,
em forma de oração!

Sempre sonhei, livremente, a cantar la traviatta ou la bella polenta ou um noturno de Chopin ou Camaleoa, de Caetano ou o piano de Jobim ou, de mim, a amar Chico Buarque, ídolo, absoluto... Me dei ao luxo de tirei dez. Muitos dez fui na escola: dez em olimpíada, dez em matemática. E física quântica era o que há. E poesia meu dia-a-dia. Aos vinte, deixei a roça e a enxada. Apropriei-me, definitivamente, da caneta e tornei-me jornalista. Marido morto, escolho o feijão ao sonho. Burocrata, ganho bem e sustento nove bocas e desta lista consta eu, a que segura a barra de tantos. Formei-me em Ciências Jurídicas. Admiro as Leis. Quero administrá-las. Mas escolhi ser Mestre em Filosofia. As Letras me fascinam.
Como poeta, tímida, escondi meus versos. Eu os tinha apenas para mim. Engavetava-os. Isso, até quando deixei de temer os homens e os apresentei em varais, cartões postais, bilhetes de amor e, modernizada, globalizada, postei-os nos sites e orkuts. Ousei participar de um concurso. Voei alto: a Academia Brasileira de Letras era parceira. O Palco da ABL o dia "D". Venci. Meu primogênito "Flores Amarelas" foi o prêmio. A academia de Letras de Maringá, meu sonho. Agora, além de livre, é meu o direito de ser eu mesma: ando de patins, corro pela praia, ainda subo em árvores... rio dos meus próprios erros... Continuo livre, presa apenas às mãos pequeninas dos netos em minhas saias.
AUSÊNCIA
© IVY MENON
Não. Não penso em homens.
Meu corpo esvaziou-se de sonhos.
As madrugadas insones lembram-me nomes.
Como quando se caminha de noite
e se distancia das luzes até que, antes da curva da estrada,
elas se tornem apenas vaga-lumes tontos no horizonte.
Não. Não há o que me console, lá atrás.
Não é possível, gritando nomes,
resgatar a alma que se desgarrou de mim.
E vaga-lumes fogem da alva.

O INSTANTE DO OLHAR
© LUIZ EDUARDO GUNTHER
Há um espaço vazio
naquele olhar
que viaja,
e contempla.
e espera.
De repente, encontra
outro olhar
perdido...
e os olhares
se buscam
e se acham.
O instante
fez-se poema
com olhares apenas.
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