Rodrigo Madeira (Foz do Iguaçu, 1979)
Poeta. Vive em Curitiba desde 1992. Alguns de seus poemas foram publicados em revistas e sites literários. Gravou, juntamente com Tullio Stefano e Ricardo Pozzo, o cd de récitas Psiconáutica. Vencedor do Concurso Helena Kolody de Poesias- Categoria Paraná em 2006, com o poema infância. Em 2.007 seu poema O inseto recebeu menção honrosa no mesmo Concurso Nacional de Poesias Helena Kolody.. É autor do livro Sol Sem Pálpebras (Imprensa Oficial, 2007). E-mail – rmadbarbosa@hotmail.com ou rodrigomadeira79@gmail.com
Alguns Poemas de Rodrigo:
infância
e eu não sabia que minha estória
era mais bonita que a de Robinson Crusoé
.carlos drummond de andrade
o menino sem camisa empinava o sol
(a palma da minha mão é hoje a cartografia do exílio)
no retrato , a carranca dos avós: eternamente condenados
a fazer cara de moscou
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
O menino, sólido e leve, não sabia crer: deus é uma fumaça
tão pesada...
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
lançou a auréola no jogo de argolas
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
o jardim da infância era o mundo. e o mundo, pequeno
como uma vila, não cabia no infinito
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
os jardineiros dormiam mortos sob os caules do azul
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
escreveu numa mensagem-de-garrafa-lançada-ao-mar:
o mar não existe!
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
d’artagnan, se não deixasse richelieu para amanhã
levava sopapos da mãe
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
iniciou-se em literatura comendo papel
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
e o desejo maciço de lavar-se em bacia de osso
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
a jangada seguia sobre um pântano de glicínias...
don juanito nos infernos, narcisando
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
e também fumava escondido, de cócoras, e gomava
as asas de urtigas e flores de ipê
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
ícaro obedecia a sua natureza de filho:
desobedecia ao pai
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
e uma pêra nascia no limoeiro
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
a segunda divisão panzer SS “das reich” de saúvas
carregava o chassis do louva-a-deus
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
o menino passeava com seu cão imaginário
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
à margem de teixos roendo-se em silêncio, especulava
as águas: iscara um anzol de nuvens para apenas roçar
o que foge, passarinhado...
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
...................................................................
mas há de sempre trocar de pele e carnes,
pois seu corpo é sua estória...
(a palma da minha mão é o registro do que morro:
o menino me recomeça)
Foz do Iguaçu
r. do angico, das paineiras, acácias,
r. do cedro, das nascentes, pôr-do-sol...
estas ruas cresceram a dar em mim
e crescerão ainda mais, até fanarem,
morrerem
(não para outros).
estas ruas em que deixei,
menino de tudo,
cascas de ferida e medo de iodo.
Estas ruas que não me deixaram
- como negativos, entre outros,
em ventrículos da memória;
como curtas-metragens
projetados no lençol
que a mãe estendeu no varal à tarde.
ao verdor da relva e da vida,
o menino isolou a bola...
- eu é que não vou buscar
Poeta. Vive em Curitiba desde 1992. Alguns de seus poemas foram publicados em revistas e sites literários. Gravou, juntamente com Tullio Stefano e Ricardo Pozzo, o cd de récitas Psiconáutica. Vencedor do Concurso Helena Kolody de Poesias- Categoria Paraná em 2006, com o poema infância. Em 2.007 seu poema O inseto recebeu menção honrosa no mesmo Concurso Nacional de Poesias Helena Kolody.. É autor do livro Sol Sem Pálpebras (Imprensa Oficial, 2007). E-mail – rmadbarbosa@hotmail.com ou rodrigomadeira79@gmail.com
Alguns Poemas de Rodrigo:
infância
e eu não sabia que minha estória
era mais bonita que a de Robinson Crusoé
.carlos drummond de andrade
o menino sem camisa empinava o sol
(a palma da minha mão é hoje a cartografia do exílio)
no retrato , a carranca dos avós: eternamente condenados
a fazer cara de moscou
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
O menino, sólido e leve, não sabia crer: deus é uma fumaça
tão pesada...
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
lançou a auréola no jogo de argolas
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
o jardim da infância era o mundo. e o mundo, pequeno
como uma vila, não cabia no infinito
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
os jardineiros dormiam mortos sob os caules do azul
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
escreveu numa mensagem-de-garrafa-lançada-ao-mar:
o mar não existe!
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
d’artagnan, se não deixasse richelieu para amanhã
levava sopapos da mãe
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
iniciou-se em literatura comendo papel
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
e o desejo maciço de lavar-se em bacia de osso
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
a jangada seguia sobre um pântano de glicínias...
don juanito nos infernos, narcisando
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
e também fumava escondido, de cócoras, e gomava
as asas de urtigas e flores de ipê
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
ícaro obedecia a sua natureza de filho:
desobedecia ao pai
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
e uma pêra nascia no limoeiro
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
a segunda divisão panzer SS “das reich” de saúvas
carregava o chassis do louva-a-deus
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
o menino passeava com seu cão imaginário
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
à margem de teixos roendo-se em silêncio, especulava
as águas: iscara um anzol de nuvens para apenas roçar
o que foge, passarinhado...
(a palma da minha mão é a cartografia do exílio)
...................................................................
mas há de sempre trocar de pele e carnes,
pois seu corpo é sua estória...
(a palma da minha mão é o registro do que morro:
o menino me recomeça)
Foz do Iguaçu
r. do angico, das paineiras, acácias,
r. do cedro, das nascentes, pôr-do-sol...
estas ruas cresceram a dar em mim
e crescerão ainda mais, até fanarem,
morrerem
(não para outros).
estas ruas em que deixei,
menino de tudo,
cascas de ferida e medo de iodo.
Estas ruas que não me deixaram
- como negativos, entre outros,
em ventrículos da memória;
como curtas-metragens
projetados no lençol
que a mãe estendeu no varal à tarde.
ao verdor da relva e da vida,
o menino isolou a bola...
- eu é que não vou buscar
Um comentário:
Que bom conhecer melhor o trabalho deste grande artista.
Parabéns, Andréa, por trazer tantas preciosidades ao seu blog.
Beijos.
Chris.
Postar um comentário