Júlia da Costa, através dos seus versos - III. Por Ivan Justen Santana
Não fosse pelo lirismo dos seus versos, o romantismo de Júlia da Costa poderia também ser assinalado por sua história pessoal. Aos 25 anos de idade, apaixonou-se por Benjamin Carvalho de Oliveira, poeta e músico que trabalhava como professor primário em São Francisco do Sul.
Benjamin tinha 21 anos de idade, era filho de um padre (informação que não se admitia na época, e que deve ter sido o motivo dele adotar um sobrenome alterado para “Carvoliva”). Apesar de trocar cartas e versos de amor com Júlia, ao ser questionado pela mãe dela sobre suas intenções, ele preferiu deixar a cidade.
Apareceu para Júlia uma proposta concreta de casamento, feita pelo Comendador Costa Pereira, um rico senhor de 56 anos de idade. Tendo em vista a pobreza da família, ela acabou então aceitando noivar e logo em seguida casar-se com o Comendador.
Com sua educação e inteligência, foi uma esposa perfeita para o que o marido necessitava em relação à sociedade. Júlia promovia bailes e recepções para autoridades no grande sobrado em que viviam, auxiliando o Comendador em sua posição de líder político local. Não tiveram filhos.
Assim, Júlia viveu carregando o sofrimento de um amor não realizado com aquele poeta que a deixou. Podemos ver essa tristeza e esse drama pessoal transformados exemplarmente em poesia:
QUEIXAS
Outrora, outrora eu amava a vida
Meiga, florida na estação das flores!
Amava o mundo e trajava as galas
Dos matutinos, virginais amores.
Que sol, que vida, que alvoradas belas
Por entre murtas eu sonhava então,
Quando ao perfume do rosal florido
Da lua eu via o divinal clarão!
Hoje debalde no rumor das festas
Procuro crenças que só tive um dia!
Minh´alma chora e se retrai sozinha,
O pó das lousas a fitar sombria!
Embalde, embalde, o bafejo amado
Da morna brisa minhas faces beija!
Meu peito é frio, como é fria a nuvem
Que em noites claras pelo céu adeja!
Embalde, embalde, no ruído insano
Das doidas festas eu procuro a vida!
Meu corpo verga... Meu alento foge...
Sou como a rosa do tufão batida.
O Comendador faleceu em 1892. Júlia viveu reclusa até sua morte, em 1911. Desse período são os seguintes versos, encontrados grafados na tampa de uma caixa de papelão, que hoje se encontra no Museu Paranaense:
Há vozes que vibram
Que vibram no peito
E lembram pesares
De um sonho desfeito
Há vozes que vibram
No peito dormente
E lembram sonhares
De um mundo presente
Há vozes que vibram
Que vibram no escuro
E lembram delícias
De um belo futuro
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
LIMA, Rosy Pinheiro. Vida de Júlia da Costa. Curitiba : Escola Técnica, 1953.
PEREIRA, Carlos da Costa. Traços da vida da poetisa Júlia da Costa. Florianópolis : Fundação Catarinense de Cultura, 1982.
Poesia – Júlia da Costa. Organização e prefácio: Zahidé Lupinacci Muzart. Coleção Brasil Diferente. Curitiba : Imprensa Oficial do Paraná, 2001.
Fonte:Centro Paranaense Feminino de Cultura
Sobre a autora escreveu o Jornalista Osvaldo Capetta. Júlia da Costa nasceu em Paranaguá em 1.º de julho de 1844 e morreu em 1911. Casou-se com o Comendador Costa Pereira, chefe do Partido Conservador. Viveu toda a vida na ilha de São Francisco do Sul, onde faleceu. Quem teve contato com ela afirmava que foi uma figura controvertida, forte, decidida e, acima de tudo, à frente de seu tempo, vindo a publicar dois livros. Amou o poeta Benjamin Carvoliva, cinco anos mais novo. Correspondia-se com ele quase que diariamente durante o namoro e, quando casada, em segredo. Ela fica desiludida quando o amado foge e a solidão se torna cada vez maior depois da morte do Comendador, que a habituara a receber catarinenses ilustres em banquetes e saraus (num dos quais esteve presente o Visconde de Taunay).
Viúva, cansada das festas, fecha-se em casa com manias de perseguição. Durante o tempo em que permanece enclausurada, planeja escrever um romance e, para tanto, confecciona painéis coloridos com cenas campesinas, interiores de lar e paisagens inspiradoras que espalha pelas paredes. Nessa velhice solitária, Júlia da Costa enlouquece e permanece fechada no casarão por oito anos, dele só saindo para o cemitério. Os dados sobre a poetisa foram coletados no site A Mulher na Literatura, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Não fosse pelo lirismo dos seus versos, o romantismo de Júlia da Costa poderia também ser assinalado por sua história pessoal. Aos 25 anos de idade, apaixonou-se por Benjamin Carvalho de Oliveira, poeta e músico que trabalhava como professor primário em São Francisco do Sul.
Benjamin tinha 21 anos de idade, era filho de um padre (informação que não se admitia na época, e que deve ter sido o motivo dele adotar um sobrenome alterado para “Carvoliva”). Apesar de trocar cartas e versos de amor com Júlia, ao ser questionado pela mãe dela sobre suas intenções, ele preferiu deixar a cidade.
Apareceu para Júlia uma proposta concreta de casamento, feita pelo Comendador Costa Pereira, um rico senhor de 56 anos de idade. Tendo em vista a pobreza da família, ela acabou então aceitando noivar e logo em seguida casar-se com o Comendador.
Com sua educação e inteligência, foi uma esposa perfeita para o que o marido necessitava em relação à sociedade. Júlia promovia bailes e recepções para autoridades no grande sobrado em que viviam, auxiliando o Comendador em sua posição de líder político local. Não tiveram filhos.
Assim, Júlia viveu carregando o sofrimento de um amor não realizado com aquele poeta que a deixou. Podemos ver essa tristeza e esse drama pessoal transformados exemplarmente em poesia:
QUEIXAS
Outrora, outrora eu amava a vida
Meiga, florida na estação das flores!
Amava o mundo e trajava as galas
Dos matutinos, virginais amores.
Que sol, que vida, que alvoradas belas
Por entre murtas eu sonhava então,
Quando ao perfume do rosal florido
Da lua eu via o divinal clarão!
Hoje debalde no rumor das festas
Procuro crenças que só tive um dia!
Minh´alma chora e se retrai sozinha,
O pó das lousas a fitar sombria!
Embalde, embalde, o bafejo amado
Da morna brisa minhas faces beija!
Meu peito é frio, como é fria a nuvem
Que em noites claras pelo céu adeja!
Embalde, embalde, no ruído insano
Das doidas festas eu procuro a vida!
Meu corpo verga... Meu alento foge...
Sou como a rosa do tufão batida.
O Comendador faleceu em 1892. Júlia viveu reclusa até sua morte, em 1911. Desse período são os seguintes versos, encontrados grafados na tampa de uma caixa de papelão, que hoje se encontra no Museu Paranaense:
Há vozes que vibram
Que vibram no peito
E lembram pesares
De um sonho desfeito
Há vozes que vibram
No peito dormente
E lembram sonhares
De um mundo presente
Há vozes que vibram
Que vibram no escuro
E lembram delícias
De um belo futuro
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
LIMA, Rosy Pinheiro. Vida de Júlia da Costa. Curitiba : Escola Técnica, 1953.
PEREIRA, Carlos da Costa. Traços da vida da poetisa Júlia da Costa. Florianópolis : Fundação Catarinense de Cultura, 1982.
Poesia – Júlia da Costa. Organização e prefácio: Zahidé Lupinacci Muzart. Coleção Brasil Diferente. Curitiba : Imprensa Oficial do Paraná, 2001.
Fonte:Centro Paranaense Feminino de Cultura
Sobre a autora escreveu o Jornalista Osvaldo Capetta. Júlia da Costa nasceu em Paranaguá em 1.º de julho de 1844 e morreu em 1911. Casou-se com o Comendador Costa Pereira, chefe do Partido Conservador. Viveu toda a vida na ilha de São Francisco do Sul, onde faleceu. Quem teve contato com ela afirmava que foi uma figura controvertida, forte, decidida e, acima de tudo, à frente de seu tempo, vindo a publicar dois livros. Amou o poeta Benjamin Carvoliva, cinco anos mais novo. Correspondia-se com ele quase que diariamente durante o namoro e, quando casada, em segredo. Ela fica desiludida quando o amado foge e a solidão se torna cada vez maior depois da morte do Comendador, que a habituara a receber catarinenses ilustres em banquetes e saraus (num dos quais esteve presente o Visconde de Taunay).
Viúva, cansada das festas, fecha-se em casa com manias de perseguição. Durante o tempo em que permanece enclausurada, planeja escrever um romance e, para tanto, confecciona painéis coloridos com cenas campesinas, interiores de lar e paisagens inspiradoras que espalha pelas paredes. Nessa velhice solitária, Júlia da Costa enlouquece e permanece fechada no casarão por oito anos, dele só saindo para o cemitério. Os dados sobre a poetisa foram coletados no site A Mulher na Literatura, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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