sábado, 13 de março de 2010

O Paraná e o Brasil perdem o traço de Glauco

O Paraná e o Brasil perdem o traço de Glauco
Cartunista paranaense, um dos mais importantes e conhecidos do Brasil, foi morto a tiros na chácara em que morava, em São Paulo

Foto Otávio Dias de Oliveira/Folha de São Paulo.

O riso sem Glauco


Última tira de Glauco, publicada na Folha de São Paulo, tratava da violência.

O homem ri do mundo para demonstrar a sua discordância com as regras, as injustiças e as besteiras que fazem parte dessa enorme engenharia chamada sociedade. Nas partículas do nanquim, até hoje utilizada, em detrimento da parafernalha eletrônica disponível, o cartunista Glauco Vilas Boas deixou o rei nu, revelou as intimidades do poder com o arbítrio e o ridículo, além de retratar a violência da vida urbana, com seus excessos de sexo e drogas.

O riso fácil e o traço despojado de Glauco foram silenciados para sempre. O desenhista foi vítima da banalidade da violência, tantas vezes denunciada em suas tiras. Ao lado de seu filho Raoni, de apenas 25 anos de idade, o artista foi assassinado em sua casa, invadida por homens armados, na cidade paulista de Osasco, conforme as primeiras informações divulgadas.

Paranaense de Jandaia do Sul, Glauco tinha 53 anos. Autor dos personagens Geraldã, Geraldinho, Nojinsk, Dona Marta, Zé do Apocalipse, Doy Jorge, Ficadinha, Netão e Edmar Bregman, entre outros, começou no jornalismo na década de setenta, no “Diário da Manhã”, jornal editado em Ribeirão Preto. Em 1976, Glauco é premiado no Salão de Humor de Piracicaba, uma das principais vitrines do humor brasileiro. Logo depois, em 1977, publica as suas charges no jornal “Folha de São Paulo”, onde manteve-se como cartunista até a sua morte.

Ao lado de Angeli e Laerte, seus companheiros de traço, Glauco levou aos quadrinhos alegorias sobre os filmes de bang-bang. Em 2006, o cartunista lançou o livro “Política zero”, publicação com 64 charges políticas sobre o Governo Lula.

Geraldão é o principal personagem inventado por Glauco, criado nos anos oitenta. Solteirão de trinta anos, virgem mora com a sua mãe, com quem mantém uma relação conturbada e neurótica. Típico anti-herói, Geraldão bebe, fuma e abusa de remédios, além de sempre assaltar as guloseimas da geladeira de sua casa.
Em homenagem ao cineasta brasileiro Glauber Rocha, Glauco deu vida a Emar Bregmam, cineasta que jamais terminou um filme, tendo como única experiência a participação nos efeitos especiais do filme “Terra em transe”.
Por Paulo Bogler/Guatá.

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