A estrada que levava à fazenda do meu tio era cercada por eucaliptos. A porteira de madeira, com os braços abertos, me recebia com carinho. Eu ainda era criança quando entrei no celeiro da fazenda pela primeira vez. Na época, havia uma grande coruja branca morando lá, sempre de olhos bem abertos. Era como se ela fosse uma grande avó, só observando as estripulias que meus primos e eu aprontávamos. Fazíamos bagunça, ela piava, nós riamos.
De todas as brincadeiras no celeiro, a mais divertida era com certeza subir a escada do silo e saltar no mar de milho. "Nadávamos" por horas, sem nos importar com nada, sem nos importar com o tempo. Mas, infelizmente, o tempo se importava e passou...
Já adulto, voltei à fazenda. A porteira de madeira era agora de ferro. Os novos tempos exigiam mais segurança, pois a fazenda já havia sido roubada várias vezes. E o celeiro?
Desapareceu. Os novos tempos exigiam mais economia, e estocar os grãos ficava mais barato no celeiro da cooperativa local. E as crianças? Cresceram. Os novos tempos exigiam um comportamento mais sério delas.
Bateu uma saudade grande, enquanto eu caminhava pelo local em que um dia o celeiro existiu. Um dos meus primos estava se preparando para casar, minha prima já tinha até filho e o outro primo estava se formando na faculdade. Eu caminhava sozinho pelo vazio de um celeiro que já não existia mais.
Foi então que o vento soprou e me trouxe uma pena branca. Apanhei-a no chão e sorri. Aquela singela pena deu asas à minha saudade. Fechei os olhos e ouvi uma grande coruja branca piar, enquanto meu mundo se acabava em um dourado e imenso mar de milho.
Ao abrir os olhos, eu vi que o celeiro não estava mais lá, simplesmente porque, agora, não era mais o celeiro que guardava a minha infância, mas era eu quem guardava o celeiro, dentro do peito.
Crônica vencedora do V Concurso Literário “Cidade de Maringá” (Crônicas Vencedoras) Troféu Laurentino Gomes. André Kondo´reside em Juntiaí- São Paulo.
Fonte:
AGULHON, Olga e PALMA, Eliana. V Concurso Literário "Cidade de Maringá". 1. ed. Maringá: Academia de Letras de Maringá, 2011.
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