Foto: Simultaneidades |
ONDE ESTÃO OS MUITOS PINHEIROS?
Teresa Teixeira de Britto
Aqui estamos no alvorecer do século vinte e um, morando no mesmo local que Balthazar Carrasco dos Reis escolheu para viver. Agora uma cidade cosmopolita, com aproximadamente 1.586.098 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Hoje a observei sob um ângulo jamais sonhado por Balthazar. No ventre de um besouro mecânico, cuja técnica de vôo é a do beija-flor, sobrevoei-a. Quis apreender Curitiba por outra ótica e resignada constatei que os gigantes pinheiros foram substituídos por edifícios pretensiosos que tentam arranhar o céu.
Procurei os rios e percebi que, domados pelas mãos humanas, foram escondidos sob camadas de cimento. Não vi sequer uma gralha-azul. Porém, lá de cima, enxerguei os complexos caminhos que cortam a cidade em todos os sentidos, repletos de veículos a motor.
O passo humano é lento demais para a pressa que atualmente temos. Enquanto as calçadas, mal suportam o caminhar nervoso dos transeuntes. Curitiba é hoje uma metrópole.
Nessa viagem poética ocorreu-me vê-la como um palco fixo, onde atores e cenário são descartáveis. Eternos são apenas palco e personagens. E os personagens, sempre os mesmos, continuam compostos pelos elementos que mantém a dinâmica do espetáculo: o ódio, o amor, a generosidade, o egoísmo. Todos com seus respectivos derivados. Embora Shakespeare tenha dito pela boca de Hamlet que “ há uma iniludível providência na queda de um pardal”, acredito que nós os atores, todavia, não somos meros fantoches, que conduzidos por um diretor, repetimos os textos de outrem. Não, nós os atores que atuamos neste palco, nos auto-dirigimos e nos côo-dirigimos e escolhemos os personagens que nos apetecem viver e colocamos as falas que nos convém. Portanto conduzimos o espetáculo ao destino que queremos e assim, seguimos nós, a humanidade: buscando o sentido da vida e acreditando que o próprio sentido está nesta busca que nos conduz ao crescimento.
Curitiba hoje é a soma do que fizeram nossos antepassados. Como será Curitiba daqui a trezentos anos? Não faço a mínima ideia! Assim como Balthazar Carrasco dos Reis, no século dezessete também não imaginava que ser humano algum, pudesse um dia sobrevoá-la.
No entanto se não ouso fazer ‘futurição’, ouso ter esperanças.
Esperança que minha cidade jamais esqueça a língua falada pelos homens que nela plantaram esta civilização.
Esperança que nossas riquezas naturais sejam preservadas. Que em seu espaço não haja lugar para o preconceito, a injustiça, a ignorância ou o desamor. Que nossos líderes, aqueles que aspiram ao mando estejam cientes da fragilidade humana. Convictos de que a onipotência jamais será facultada aos mortais e que ninguém é mais vulnerável que o governante. Sendo o poder paradoxal, sábios são os que não precisam cortar o dedo para saber que sangra.
Auguro que nossa imaturidade cultural, tão evidente quando abusamos da estrangeirice, não nos impeça de constatar que ter nascido neste solo é privilégio. Que nossos museus permaneçam de portas abertas, dispostos a acolher aqueles que desejam conhecer a sua história. Que nossos monumentos sejam preservados. Todos! O prédio do Teatro Guaíra, da Universidade Federal do Paraná, da Santa Casa de Misericórdia, do Instituto de Educação e outros, mas, principalmente o prédio da Catedral Basílica.
Não só porque sob ele descansou o corpo heróico de Balthazar Carrasco dos Reis, nem porque ali, as almas oram contritas, mas, sobretudo, porque a Catedral Basílica é o símbolo maior da perenidade curitibana! Assim sendo, é necessário que suas torres permaneçam eretas, vigilantes, quais sentinelas, observando o desenrolar de nossa história, cuidando para que Curitiba jamais deixe de ser “Cury tuba!”
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Publicado originalmente no site do Centro Paranaense Feminino de Cultura
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