Zack McCoy, personagem retratado por John Updike em “Busca o meu rosto”, dizia, quanto às telas que produzia, que o espectador deveria “penetrar” a sua pintura, pois somente quando “possuísse” a obra poderia descobrir o seu significado.
Metáforas sexuais à parte e devendo-se levar em conta que estas refletiam os ideais do movimento expressionista abstrato, essa imagem conduz a reflexão acerca do “ato de ler”, com o sentido abrangente que vem assumindo.
Segundo a visão que gradualmente se consolida, ler a arte é ação que se desenrola mediante o diálogo entre o leitor e o objeto de leitura, literário ou não.
Enveredando por tal trilha, que oferece novos desafios, o ato de ler implicaria na reinterpretação do objeto da leitura, fundindo as experiências e percepções do leitor com os elementos que compõem esse objeto.
Essa interlocução produziria uma recontextualização do objeto da leitura, o qual assumiria um significado individual para cada leitor, único e distinto, desvinculando-se, inclusive e especialmente, daquele proposto pelo autor/criador.
Consoante essa visão, o ato de criar uma obra de arte passa a se identificar com a “arte” de criar um filho, inicialmente modulado pelos valores de seus pais e que é posteriormente entregue à ação do mundo, como meio único para a construção de sua individualidade.
O autor/criador projeta para a sociedade suas idéias, valores, percepções, produzindo essencialmente uma obra que, para ele, possui um significado determinado.
Ao difundi-la para a sociedade, aliena esse significado, permitindo que cada espectador/leitor a reconstrua, a “possua” para si e, fundindo seus próprios elementos intelectivos e sensoriais, recrie a obra, fazendo-a única e ímpar.
A obra de arte, por um instante, se faz autônoma, emancipada do seu criador, para em seguida entregar-se a um novo domínio, presa à interpretação do seu leitor.
Se assumida de forma radical essa concepção, poder-se-ia concluir que talvez a arte seja isso, um simples “nada”, entre aspas mesmo.
A obra de arte, por não possuir significado próprio, apresentar-se-ia com uma fluidez plena, cuja existência dependeria de modo absoluto da leitura de seus espectadores/leitores, aos quais, em análise extrema, estaria agregado seu autor/criador, na qualidade de primeiro leitor.
Tomando essa idéia como paradigma, como poder-se-ia avaliar a obra literária, que joga com a linguagem escrita, usando as palavras que, em tese, possuem significação já consolidada?
Sem maiores reflexões, já que o propósito do texto não é o de firmar conclusões, cumpre apenas deixar uma afirmação para finalizar: tolo é aquele que acredita que as palavras falam por si.
Sérgio Malheiros Mahlmann
24/08/2010
Metáforas sexuais à parte e devendo-se levar em conta que estas refletiam os ideais do movimento expressionista abstrato, essa imagem conduz a reflexão acerca do “ato de ler”, com o sentido abrangente que vem assumindo.
Segundo a visão que gradualmente se consolida, ler a arte é ação que se desenrola mediante o diálogo entre o leitor e o objeto de leitura, literário ou não.
Enveredando por tal trilha, que oferece novos desafios, o ato de ler implicaria na reinterpretação do objeto da leitura, fundindo as experiências e percepções do leitor com os elementos que compõem esse objeto.
Essa interlocução produziria uma recontextualização do objeto da leitura, o qual assumiria um significado individual para cada leitor, único e distinto, desvinculando-se, inclusive e especialmente, daquele proposto pelo autor/criador.
Consoante essa visão, o ato de criar uma obra de arte passa a se identificar com a “arte” de criar um filho, inicialmente modulado pelos valores de seus pais e que é posteriormente entregue à ação do mundo, como meio único para a construção de sua individualidade.
O autor/criador projeta para a sociedade suas idéias, valores, percepções, produzindo essencialmente uma obra que, para ele, possui um significado determinado.
Ao difundi-la para a sociedade, aliena esse significado, permitindo que cada espectador/leitor a reconstrua, a “possua” para si e, fundindo seus próprios elementos intelectivos e sensoriais, recrie a obra, fazendo-a única e ímpar.
A obra de arte, por um instante, se faz autônoma, emancipada do seu criador, para em seguida entregar-se a um novo domínio, presa à interpretação do seu leitor.
Se assumida de forma radical essa concepção, poder-se-ia concluir que talvez a arte seja isso, um simples “nada”, entre aspas mesmo.
A obra de arte, por não possuir significado próprio, apresentar-se-ia com uma fluidez plena, cuja existência dependeria de modo absoluto da leitura de seus espectadores/leitores, aos quais, em análise extrema, estaria agregado seu autor/criador, na qualidade de primeiro leitor.
Tomando essa idéia como paradigma, como poder-se-ia avaliar a obra literária, que joga com a linguagem escrita, usando as palavras que, em tese, possuem significação já consolidada?
Sem maiores reflexões, já que o propósito do texto não é o de firmar conclusões, cumpre apenas deixar uma afirmação para finalizar: tolo é aquele que acredita que as palavras falam por si.
Sérgio Malheiros Mahlmann
24/08/2010
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