Aconteceu na noite de ontem, 20 de agosto de 2010, na Livraria do Joaquim, o Pré-Lançamento da Antologia Teia Poética, segundo livro do Grupo de Escritores Paranaenses Pó&Teias.A Antologia é apresentada à comunidade literária curitibana pela professora Glória Kirinus e prefaciado por Assionara Souza.
Para ver as fotografia do evento, clique na Coluna Simultaneidades Aconteceu na barra lateral direita ou AQUI!
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Conheça um pouco do livro e de seus autores lendo abaixo o prefácio de Assionara.
Teia Poética: Tecendo a manhã
“E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
no toldo (a manhã) que plana livre de armação.” João Cabral de Melo Neto
Recorro a João Cabral e seu poema “Tecendo a manhã” para acrescentar algumas palavras ao lançamento desta segunda comunhão poética do grupo Pó&teias. Conduzidos pela escritora Gloria Kirinus, que tem, como poucos, a literatura como sua profissão de fé, o grupo cresceu e se manifesta com uma característica particularíssima e rara: nesta tela em que se tece o fazer literário há espaço para que todos entrem e contribuam “para que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo”.
Os textos transitam por vários gêneros: da poesia mínima à crônica de uma Curitiba que foi e não é mais. Há quem possa refratar essa convivência, num mesmo livro, de expressões literárias tão díspares. Mas é justamente essa orquestração de muitas vozes que enlaça e fortalece a teia.
Embora o livro distribua os textos seguindo a ordem alfabética, será tentador para alguns leitores organizar a leitura a partir de um grande panorama histórico literário da poesia que se fez e ainda se faz em Curitiba. Um itinerário que sai da estação do Parnaso até encontrar conexão com o ligeirinho Leminski. Exemplo disso, os textos mordazes de Raul Pough: “BLOQUEIO: Ando meio vago/ nas horas escritas”; ou ainda em COTIDIANO II: “Pena, pele, sangue, carne/ amálgama da vida/ em pasta”, de Deisi Perin.
Não deixa de comparecer as tintas de uma tradição haicaísta, que nos remonta a personalidades como Dona Helena Kolody e Alice Ruiz: como no poema ALVORADA: “pássaros gorjeiam/ primeiros raios de Sol/ um avião corta-me a retina”, de Carlos Sousa.
Nesse sentido, percorrer o livro será empreender uma viagem a uma Curitiba que, ainda que se camufle em acrílicos, esquinas, becos, vielas, bares, bordéis, subúrbios ou mesmo guardada num vão da memória, acha-se aqui, na voz dos autores de Pó&teias.
Nos temas com visada metalinguística, lembramos o ENLEVO, de Andréa Motta: “derramadas as palavras/ no centro do infinito/ com que ternura te encontro (...) ouso em teu nome,/ poesia/ compor a tristeza/ e a alegria/ que deslumbra/ os sentidos”. E também o S/: “o meu corpo nu/passeia pela casa/e/na parede da sala/sangra/a minha natureza morta”, de Angela Gomes.
Ao lado da atmosfera nostálgica presente em textos como os de Raquel Macedo Mestre, temos também o grito solto em delicados rituais da poesia de Iriene Borges: “A isso que sou /boneca de sonho/ títere do som/ não cabe reter a palavra que resvala.” Resvala e esbarra na bem direcionada e urbefágica lente – nem um pouco reticente (só pra não deixar de rimar) – de Ricardo Pozzo, que enfatiza o coro fatalista: “Quem verá o vento balançar a macega?/Ou crispar desconexa língua de fogo?/Em estreitas veias da urbe/a banhar-se em chorume,/o cadáver carbonizado (...)”. E mais ainda que o grito, a refinada e expectante ironia (que já não se assombra dos mais que 111AIS) de Wilson Nogueira: “Ora é só uma louca com a camisola suja de cocô/ A pele desbotada e os olhos desancorados de si (...)”. Tríade que se fecha e se espraia na voz de Tullio Stefano, atento ao canto dos (últimos?) malditos: “Não se pode dormir/enquanto o raio do sol/ é o espectro da morte”.
Vale destaque para um vislumbre na Curitiba das estruturas bem planejadas, mesmo que brade: “foda-se o poema!”, que pode ser apreciada no sofisticado poema instalação, “O inseto”, que nos remete à aporia drummondiana, assinado por Rodrigo Madeira, poeta que, assim como João Cabral, planeja e mede a engenharia das palavras:
2. O inseto de
palarva e tinta,
multiplicado
por suas asas
Como se vê, o livro Teia Poética traz iguarias para todos os gostos (desde sonhos a biscoito fino). É só escolher, freguesia! (Assionara Souza)
Recorro a João Cabral e seu poema “Tecendo a manhã” para acrescentar algumas palavras ao lançamento desta segunda comunhão poética do grupo Pó&teias. Conduzidos pela escritora Gloria Kirinus, que tem, como poucos, a literatura como sua profissão de fé, o grupo cresceu e se manifesta com uma característica particularíssima e rara: nesta tela em que se tece o fazer literário há espaço para que todos entrem e contribuam “para que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo”.
Os textos transitam por vários gêneros: da poesia mínima à crônica de uma Curitiba que foi e não é mais. Há quem possa refratar essa convivência, num mesmo livro, de expressões literárias tão díspares. Mas é justamente essa orquestração de muitas vozes que enlaça e fortalece a teia.
Embora o livro distribua os textos seguindo a ordem alfabética, será tentador para alguns leitores organizar a leitura a partir de um grande panorama histórico literário da poesia que se fez e ainda se faz em Curitiba. Um itinerário que sai da estação do Parnaso até encontrar conexão com o ligeirinho Leminski. Exemplo disso, os textos mordazes de Raul Pough: “BLOQUEIO: Ando meio vago/ nas horas escritas”; ou ainda em COTIDIANO II: “Pena, pele, sangue, carne/ amálgama da vida/ em pasta”, de Deisi Perin.
Não deixa de comparecer as tintas de uma tradição haicaísta, que nos remonta a personalidades como Dona Helena Kolody e Alice Ruiz: como no poema ALVORADA: “pássaros gorjeiam/ primeiros raios de Sol/ um avião corta-me a retina”, de Carlos Sousa.
Nesse sentido, percorrer o livro será empreender uma viagem a uma Curitiba que, ainda que se camufle em acrílicos, esquinas, becos, vielas, bares, bordéis, subúrbios ou mesmo guardada num vão da memória, acha-se aqui, na voz dos autores de Pó&teias.
Nos temas com visada metalinguística, lembramos o ENLEVO, de Andréa Motta: “derramadas as palavras/ no centro do infinito/ com que ternura te encontro (...) ouso em teu nome,/ poesia/ compor a tristeza/ e a alegria/ que deslumbra/ os sentidos”. E também o S/: “o meu corpo nu/passeia pela casa/e/na parede da sala/sangra/a minha natureza morta”, de Angela Gomes.
Ao lado da atmosfera nostálgica presente em textos como os de Raquel Macedo Mestre, temos também o grito solto em delicados rituais da poesia de Iriene Borges: “A isso que sou /boneca de sonho/ títere do som/ não cabe reter a palavra que resvala.” Resvala e esbarra na bem direcionada e urbefágica lente – nem um pouco reticente (só pra não deixar de rimar) – de Ricardo Pozzo, que enfatiza o coro fatalista: “Quem verá o vento balançar a macega?/Ou crispar desconexa língua de fogo?/Em estreitas veias da urbe/a banhar-se em chorume,/o cadáver carbonizado (...)”. E mais ainda que o grito, a refinada e expectante ironia (que já não se assombra dos mais que 111AIS) de Wilson Nogueira: “Ora é só uma louca com a camisola suja de cocô/ A pele desbotada e os olhos desancorados de si (...)”. Tríade que se fecha e se espraia na voz de Tullio Stefano, atento ao canto dos (últimos?) malditos: “Não se pode dormir/enquanto o raio do sol/ é o espectro da morte”.
Vale destaque para um vislumbre na Curitiba das estruturas bem planejadas, mesmo que brade: “foda-se o poema!”, que pode ser apreciada no sofisticado poema instalação, “O inseto”, que nos remete à aporia drummondiana, assinado por Rodrigo Madeira, poeta que, assim como João Cabral, planeja e mede a engenharia das palavras:
2. O inseto de
palarva e tinta,
multiplicado
por suas asas
Como se vê, o livro Teia Poética traz iguarias para todos os gostos (desde sonhos a biscoito fino). É só escolher, freguesia! (Assionara Souza)
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